Como eu nasci? O que é sexo? Como as mulheres ficam grávidas? Essas são apenas algumas das perguntas mais comuns e embaraçosas que as crianças fazem aos adultos quando entram na chamada fase dos porquês, uma época repleta de dúvidas na qual os pequenos começam a descobrir o mundo à sua volta. "A partir dos dois anos e meio até os quatro anos a criança desenvolve o que Jean Piaget denominou como período pré-operatório, também conhecido como a fase dos porquês", explica a pedagoga Andresa Santos.
"É nessa fase que a criança constrói a própria identidade. Ela passa a ter noção de sua existência, das coisas que consegue fazer, que vê ou que ouve. A partir dessa descoberta, percebe também os fatos ao seu redor, dando maior ênfase a como tudo acontece, ou seja, aos porquês", comenta Stela Lobato, psicóloga e diretora da Boobambu Academia da Criança. "A fase dos porquês acontece quando os pequenos estão mais abertos para o mundo que os cerca. Até essa fase, eles são muito egocêntricos e não conseguem muito perceber o outro e o mundo em que estão inseridos. Já nesta fase a criança descobre um mundo muito maior, com muitas opções e que ela ainda não domina", afirma Stella Maris Bicalho de Paiva, psicóloga e psicopedagoga do Colégio Pitágoras, de Belo Horizonte (MG).
Por isso, é natural que os pequenos tenham dúvidas sobre assuntos mais delicados, como o sexo. "É normal que as crianças façam perguntas sobre este assunto. Isso faz parte do desenvolvimento e é um tema que não é falado. Logo, as crianças fantasiam sobre ele. Sexo não deveria ser um assunto difícil, ele deveria ser normal e é com naturalidade que precisa ser respondido para as crianças, sempre de forma curta e honesta, realmente esclarecendo a dúvida. Até para que ela não fique sem resposta, fantasie sobre as respostas ou pesquise com outras fontes, como os amigos da mesma idade, revistas ou internet", alerta Paula Pessoa Carvalho, psicóloga da Estímulo Consultoria.
"Com o volume de informações a que tem acesso através de televisão, escola, colegas e jogos, a criança é apresentada a temas novos a todo instante. O assunto sexo é um dentre tantos outros que ela pode perguntar e ter curiosidade, pois nesse momento está também descobrindo o seu corpo e as diferenças que existem entre o corpo do menino e da menina. É importante estar atento à pergunta do seu filho, pois muitas vezes ele quer uma resposta simples e que satisfaça sua curiosidade do momento. Portanto, responda de forma clara e objetiva, sem criar história", indica Stella Maris. "Na hora de responder aos pequenos uma coisa é certa, não se deve mentir. É importante explicar o que eles querem saber, mas sem entrar em detalhes. Evite falar da cegonha e da sementinha. Hoje, existem muitos livros ilustrados que os terapeutas indicam aos pais para suprir a dúvida das crianças em relação à curiosidade sobre sexo", recomenda Andresa.
DIGA A VERDADE
Lidar com a curiosidade infantil não é um bicho de sete cabeças, desde que os pais e responsáveis pela criança entendam que dizer a verdade é muito importante para que ela entenda melhor o mundo à sua volta. "É essencial falar a verdade, independente da pergunta. Se a criança está perguntando é porque não sabe e irá perguntar para quem confia, geralmente os pais. Por isso é tão importante que eles sejam uma fonte segura que sempre fala a verdade, caso contrário não se estabelece um vínculo de confiança entre pais e filho", adverte Paula.
Mas, para falar a verdade e a criança compreender, procure adequar sua resposta à faixa etária dela. "É importante nunca ignorar uma pergunta e ouvir com atenção. Se no momento o adulto não estiver certo da sua resposta, diga à criança que mais tarde responderá. No entanto, a resposta deve ser em uma linguagem adequada à idade dela, com um vocabulário de fácil compreensão", ressalta Andresa. "Os pais precisam ter muita paciência nesta fase e não podem subestimar os pequenos. Eles vão perguntar sobre tudo e isso não quer dizer que estão questionando a autoridade dos adultos quando perguntam o porquê de uma ordem ou de uma resposta", afirma Stela Lobato.
Além das dúvidas sobre sexo, os pequenos também fazem perguntas sobre outros assuntos que os pais consideram difíceis de responder. "As dúvidas são das mais variadas, desde 'como fui parar na sua barriga' ao 'do que é feita a nuvem'. Nessa fase, a criança está descobrindo o mundo, o corpo, a família, o ambiente em que vive, do que as coisas são feitas e por isso os pais precisam estar preparados para qualquer tipo de questionamento", recomenda Paula. "As dúvidas mais comuns, normalmente, fazem referência às vivências das crianças. Elas perguntam sobre o que ouviram, viram, sentiram ou sobre algo que está acontecendo no momento. Pode se referir a animais, desenhos animados, fatos do dia a dia e até regras que os pais estão impondo", comenta Stella Maris.
"Tudo é uma grande novidade nesta fase da criança. Perceber que existem explicações faz com que o conhecimento dos assuntos se expanda, se amplie, acabe se tornando uma enorme fonte de prazer e que aguça ainda mais a curiosidade dos pequenos. Eles podem explorar o tema dos fenômenos da natureza, assim como as relações humanas e as diferenças que passam a perceber em seu dia a dia. Os pequenos vão se concentrar nos assuntos que tenham mais afinidade ou que aparecem ao longo de seus dias e experiências", avisa Stela Lobato.
APRENDIZADO
A fase dos porquês não é apenas uma época de questionamentos por parte da criança. Tantas dúvidas e perguntas fazem esta fase se tornar um momento de grande aprendizado para os pequenos. "Essa fase dos porquês incentiva o aprendizado, por isso é importante nunca mentir ou inventar respostas mirabolantes que, ao invés de suprir a dúvida, irá confundir a criança. Além disso, é importante sempre estar de acordo com o parceiro na resposta para não confundir a cabeça do filho", esclarece Andresa.
"Fazer perguntas e investigar é parte do pensamento científico. É através das perguntas e dos porquês que todos nós esclarecemos e ampliamos nossos conhecimentos. Usar os porquês abre os caminhos do saber, do crescer, do ir além e isso é aprender", afirma Stella Maris. "Quando a criança investiga e descobre, abre-se para ela a possibilidade de fazer novas perguntas e investigar outras coisas. Ou seja, quando têm as respostas das suas dúvidas, os pequenos passam a ficar estimulados por novas questões, querendo saber mais", ressalta Paula. "Uma coisa alimenta a outra. Quanto mais se aprende, mais lacunas se formam e com o amadurecimento das crianças, mais complexos se tornam as perguntas", avisa Stela Lobato.
Quando as dúvidas surgem, os pequenos costumam perguntar para as pessoas mais próximas. "As dúvidas surgem em diferentes momentos das crianças. Alguns porquês são respondidos por pessoas com quem estão no momento. Pais, avós, parentes e professores são pessoas responsáveis por dar boas respostas ou por ajudar as crianças a encontrar as respostas. Muitas vezes as dúvidas podem ser sanadas em forma de pesquisa, observação ou leitura. Dar boas respostas não quer dizer responder prontamente, mas sim deixar que a criança busque ou pense em mais porquês. Assim as pessoas contribuem para o crescimento das crianças", assegura Stella Maris.
"É quase impossível evitar que outras pessoas participem desse jogo de perguntas e respostas. As crianças vão perguntar sempre para quem é mais próximo e significativo. Então, além dos pais e dos professores, avôs, tios e babás serão interrogados a todo momento", alerta Stela Lobato. "A fase dos porquês exige muito respeito e paciência, não somente dos pais, mas de todas as pessoas que cercam a criança. Qualquer adulto está apto a responder aos questionamentos dos pequenos. Entretanto, é recomendado evitar atitudes hostis às perguntas, evitando assim causar medo, desinteresse ou inibição na criança", aconselha Andresa.
Fonte: http://bbel.uol.com.br
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