sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Como agir quando os filhos têm vergonha dos pais?

CONFLITO DE REALIDADE O nascimento dos filhos traz alegria e preocupação aos pais, principalmente aos que vieram de origem humilde. É natural que todo pai queira proporcionar ao filho a melhor educação e os melhores brinquedos, porém, esse tipo de atitude pode gerar conflitos na personalidade da criança, principalmente no que diz respeito às diferenças socioeconômicas. "O filho é a relíquia dos pais e é natural que eles queiram dar todo conforto que muitas vezes nem eles tiveram", comenta Paula Pessoa Carvalho, psicóloga comportamental infantil. As crianças absorvem o comportamento das outras pessoas, especialmente dos familiares. Por conta desse fator, precisam se sentir seguras e tentam conquistar a aprovação de seus pais agradando-os de todas as formas. Carvalho lembra que muitas vezes os pais criam um ambiente ilusório para a criança, numa realidade diferente da vivida pela família. Para a psicóloga Jéssica Fogaça, o sentimento de vergonha se intensifica no período em que a criança começa a frequentar a escola, principalmente na fase inicial da pré-adolescência. Paula lembra que em torno dos sete ou oito anos os filhos começam a se dar conta das diferenças existentes entre eles e seus amigos. "A criança percebe que o carro que leva os amiguinhos para a escola é importado, enquanto que o carro do pai não é. Com o tempo ela passa a não aceitar bem essa diferença e é nesse momento que os problemas começam", conta Paula Carvalho. A intimidade é um fator delicado e é preciso ter cuidado com a abordagem, principalmente na pré-adolescência. "Os pais devem ficar atentos para não confundirem os papéis de pai e amigo, pois amigos as crianças já têm na escola", lembra Jéssica. Ao se sentirem constrangidos com as atitudes dos pais, as mentiras começam a se tornar frequentes e as atitudes mudam. Os filhos passam a evitar sair com os pais, não convidam os colegas para brincar em casa e ao chegar na escola, pedem para saírem do carro antes do ponto comum de desembarque. ATENÇÃO ÀS ATITUDES Inventar muitas mentiras e histórias para os colegas não é normal. "Em muitos casos foram os próprios pais que criaram essa realidade fantasiosa para a criança. Cabe a eles mudar essa situação. A criança precisa saber da sua condição para não ficar fantasiando com algo que não existe", complementa Paula. Jéssica sugere que os pais abram espaço para que os filhos falem sobre o assunto, mas para isso eles devem estar abertos a ouvir e saber se posicionar. A partir do momento que a criança conhece suas raízes fica mais fácil entender as limitações financeiras dos pais e não se sentir envergonhadas por esse fator. Por volta dos sete anos, os filhos passam a assimilar melhor o ambiente e valores que os cercam. Por esse motivo é importante a participação dos professores no processo de educação. "Os professores precisam prestar atenção no comportamento dos alunos. É normal uma criança mentir e fantasiar sobre assuntos que envolvam dinheiro, mas isso não pode ser frequente. Eles devem conversar com os pais para conhecer um pouco mais sobre a realidade da família", lembra Paula. Os educadores têm papel fundamental no processo de formação de caráter e comportamento das crianças e, por isso, devem trabalhar a questão da diversidade nas aulas. "O que conta são os bens materiais que o coleguinha tem ou se ele é legal e divertido? É interessante que seja trabalhado em parceria com as famílias a valorização dos pais e as diferenças das pessoas", lembra Jéssica Fogaça. RESOLVENDO O PROBLEMA Essa é uma situação complicada de resolver tanto para os pais quanto para os filhos. Paula sugere uma conversa franca para tentar solucionar o problema. "É importante conduzir a conversa sempre falando a verdade de forma clara. Explique que a vontade infelizmente nem sempre é como a realidade", comenta Paula. É normal que a criança sofra um pouco pela frustração, mas é importante que ela aprenda a não mentir mais. "Frustrar os filhos é necessário. É até melhor que eles se frustrem por uma conversa com os pais, que vão ser carinhosos e atenciosos, do que pela vida", lembra Paula. Segundo Jéssica os pais devem pedir sugestões para seus filhos de como agir, principalmente na frente dos colegas. Dessa forma eles sentem que sua opinião é valorizada e que os pais realmente se preocupam com o que eles pensam. "Filho gosta de carinho e de se sentir protegido, porém, isso deve ficar restrito ao ambiente familiar. Evite situações constrangedoras na frente de outras pessoas", lembra Jéssica. As psicólogas afirmam que as crianças não aceitam aquilo que vem em forma de bronca, portanto, a conversa ainda é a melhor alternativa. Fonte: http://bbel.uol.com.br

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