Rolar, dançar, pular...
Os bebês vão para a creche cada vez mais cedo. Geralmente, não falam e passam grande parte do dia olhando as mãos, tentando pegar os pés, sorrindo, chorando, balançando a cabeça... Estão explorando o próprio corpo e se comunicando com quem está por perto. Cabe às escolas de Educação Infantil desenvolvê-los e propor atividades adequadas a isso (com os materiais apropriados). "Pesquisas mostram que as experiências sensoriais e motoras vividas na primeira infância desempenham um papel fundamental na formação do cérebro", diz o psicomotricista André Trindade, especializado em atendimento a bebês.
Nessa fase, a ação é a principal forma de linguagem. É assim que os pequenos interagem com o meio e aprendem sobre si mesmos, as pessoas que os rodeiam e os lugares que freqüentam. Por isso, não existe hora específica para pôr a turminha para se movimentar. Ao contrário, é preciso fazer isso o tempo todo. Pular, rolar, dar cambalhotas, correr - tudo é fundamental para a meninada se relacionar com os colegas e descobrir o mundo. No banho, por exemplo, bater pernas e mãos na água permite que a criança descubra do que é capaz, além de despertar sensações (o que se chama de consciência corporal).
Só mais tarde, quando a criança pronuncia as primeiras palavras, percebe que há outros meios de se comunicar. Mas ela não perde o dinamismo e a necessidade de explorar o mundo com o corpo. É por isso que situações de contenção motora, como ficar sentado muito tempo, atrapalham o desenvolvimento. "A Pedagogia tem de ser intencionalmente planejada e contemplar o que é possível e necessário para o grupo", diz Isabel Porto Filgueiras, professora do curso de Educação Física da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo.
As teorias sobre o desenvolvimento motor, em especial as de Jean Piaget, Henri Wallon e David L. Gallahue, explicam por que alguém não consegue fazer determinado movimento. No entanto, não servem para todos os indivíduos, pois não é possível esperar o mesmo de todos.
Há casos de bebês que se sentam com 5 meses, enquanto outros só vão fazer isso aos 8. Essa diferença é normal e se dá por causa dos diferentes ritmos biológicos. Daí porque, hoje, considera-se melhor pensar nas competências individuais e não na idade.
Pensamento e ação...
Piaget criou a expressão construção dos esquemas de ação para batizar a forma como os pequenos aprendem quando se movimentam. Para o pesquisador suíço, desde muito cedo nós, humanos, pensamos antes de agir e, toda vez que enfrentamos um desafio, aplicamos o que já sabemos. Ou seja, quando uma criança sabe andar, mas não saltar, e encontra um obstáculo no caminho (como um cabo de vassoura), ela primeiro tenta pisar sobre ele em vez de passar por cima sem tocá-lo. Provavelmente, isso provocará a perda do equilíbrio e o fim da caminhada. Piaget escreveu que, ao se levantar, será preciso criar um esquema de ação diferente. Ou seja, pela exploração surge outro jeito de vencer cada desafio.
Wallon estudou o movimento como uma forma de linguagem. Sua preocupação era com a expressão, não com a coordenação motora. Segundo ele, o recém-nascido está mais interessado nas relações sociais do que no próprio corpo. "Ele quer estabelecer vínculos para entender seu papel no mundo", explica a professora Isabel Porto Filgueiras. Para isso, o bebê usa o movimento para atrair a atenção. Já Gallahue estuda as possibilidades e limitações nas fases de desenvolvimento motor. Ele descreve cada etapa e como a criança evolui. É por isso que mais importante do que executar uma ação perfeitamente é saber fazê-la de vários jeitos. "É na diversidade que os pequenos começam a aprender sobre o mundo", completa Isabel.
Continuação no próximo artigo...
Fonte: http://revistaescola.abril.com.br
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