terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Repetir de ano não é o fim do mundo

Já encerrou-se o ano letivo e muitos pais devem ter constatado que seus filhos não irão para a próxima série. Se já estão esgotadas todas as possibilidades de recuperar as notas e o conteúdo pedagógico do ano, é hora de pensar nos erros para evitar repeti-los no futuro. "Para os pais, a repetência é um assunto delicado porque muitas vezes envolve dinheiro, um investimento que aparentemente não teve rendimento ou aproveitamento. E na visão de alguns, é um sinal que algo não está bem na família e refletiu no rendimento escolar da criança", explica a psicóloga clínica Renata Gongola. Além disso, vivemos numa sociedade onde o sucesso é cobrado o tempo todo. "Os pais apostam também tempo e energia na educação dos filhos. A conclusão dos estudos é apontada como elemento facilitador no ingresso deles no mercado de trabalho, então perder um ano pode significar o adiamento da concretização deste objetivo. Os pais sentem que fracassaram de alguma forma e se sentem impotentes para lidar com a situação", afirma a psicóloga Márcia Luz, autora do livro Construindo um Futuro de Sucesso, publicado pela Qualitymark Editora. Embora seja difícil para os pais, a repetência é ainda mais complicada para o filho. "Os pais precisam conversar com a criança sobre o que aconteceu e explicar que, no próximo ano, ela estará naquela mesma série, mas agora com outro enfoque e com mais dedicação", esclarece Gabriela Dal Madico, psicopedagoga do Colégio Fênix. Além disso, o aluno que repetiu de ano traz à tona sentimentos como a vergonha, pois não conseguiu alcançar o que a maioria de seus amigos conquistou. "Por isso, os pais não devem usar palavras ofensivas com o filho, pois é um momento de fragilidade familiar e que necessita de tranquilidade", recomenda Gabriela. Os pais precisam ficar atentos, pois a repetência pode ter acontecido devido a algum transtorno de aprendizagem, como dislexia e discalculia, que talvez a própria escola tenha sido incapaz de identificar. "Neste caso, apenas boa vontade e esforço por parte do aluno não irão garantir a recuperação das notas e os pais deverão procurar um tratamento adequado para seus filhos", adverte Márcia. Neste momento tão delicado para seu filho, tente se aproximar dele e seja justo, levando em consideração o motivo da repetência. Nem sempre não atingir as metas é culpa exclusiva do aluno. "A criança muitas vezes reflete em suas notas a crise familiar. É comum diminuir as notas durante o processo de divórcio dos pais, por exemplo. Se o seu filho está manifestando necessidade de atenção, dedique mais tempo a ele, de tal forma que não seja necessário chamar atenção tirando notas baixas", alerta Márcia. Se a criança é muito levada, este fator não é determinante na hora da repetência. "O que pesa para o aluno não passar de ano não é o seu comportamento, mas o seu desenvolvimento na aprendizagem. Se ele não conseguiu absorver aquele conteúdo, não conseguirá passar para a série posterior, onde as disciplinas serão mais complexas", afirma Gabriela. Por isso, repetir de ano não deve ser encarado como o fim do mundo. "Para alguns alunos é uma oportunidade para amadurecer tanto emocional como pedagogicamente. Também pode ser uma oportunidade para os pais perceberem a necessidade de outros tipos de ajuda", avisa Renata. O diagnóstico feito por uma psicóloga ou psicopedagoga pode verificar se há algo de errado no processo de aprendizagem da criança. "As aulas de reforço muitas vezes são suficientes, porém existem casos em que é necessário o auxílio de um profissional para detectar possíveis problemas de cunho psicológico. É fundamental também que haja sintonia entre escola, pais e aluno", recomenda Gabriela. Não tenha medo ou receio de procurar ajuda, muitas vezes as respostas e soluções estão bem abaixo de nossos olhos. "O processo de aprendizagem envolve muitos fatores e muitos aspectos devem ser levados em consideração, como a vida escolar, a relação familiar, a alimentação e a saúde", lembra Renata. Para evitar que seu filho repita de ano, procure acompanhar os problemas escolares ao longo do ano e não só no fim, quando muitas vezes já não há chances de recuperação. "Os pais precisam agir de maneira preventiva, para evitar a reprovação. Ela não pode ser uma surpresa no fim do ano, pois isto significa que o desempenho escolar não foi acompanhado ao longo dos meses", explica Márcia. "Durante o ano todo o aluno deve ser incentivado a buscar alternativas para evitar a repetência. Uma delas é procurar seus professores para mostrar sua preocupação por não entender algum conteúdo, tirar dúvidas, dedicar mais tempo aos estudos e dialogar com os pais sobre suas dificuldades escolares", indica a psicóloga Renata. No caso da reprovação confirmada, há várias formas de ajudar as crianças. "Trate seu filho com palavras de incentivo, faça com que ele não desista e acredite em si. Diga a ele que agora será construída uma nova e melhor história com outros amigos", aconselha a psicopedagoga Gabriela. Além disso, a escola também deve sempre repensar suas atitudes e mudar, quando preciso. "No caso de um aluno que não conseguiu melhorar suas notas nem seu rendimento escolar, é preciso observar se o colégio buscou alternativas para diagnosticar e ajudar a criança durante o ano. É sempre indicado à escola informar aos pais o rendimento escolar dos filhos, para que juntos possam colaborar com o aprendizado da criança ou adolescente", avisa Renata. É importante ressaltar que é neste momento que o aluno mais precisa de reforço em sua autoestima. "Não é hora de cobranças ou julgamentos. Sente com seu filho e trace um plano de desenvolvimento de como atuarão no ano seguinte para superar a repetência. Um tombo pode ser encarado como um fracasso ou como uma magnífica oportunidade de aprendizagem", conta Márcia. "Portanto, acredite em seu filho, ame-o incondicionalmente e trabalhe na formação de seu caráter", indica a autora. Fonte: http://bbel.uol.com.br

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