domingo, 11 de abril de 2010

INCLUSÃO ESCOLAR (ENTREVISTA)

Para começar, a professora define Inclusão Escolar, dizendo que a educação inclusiva acolhe todas as pessoas, sem exceção, onde professores e alunos aprendem uma lição que a vida dificilmente ensina: respeitar as diferenças; portanto ressalta que para ela, “Inclusão é o privilégio de conviver com as diferenças”.

O processo de inclusão influenciou no seu trabalho, principalmente quando recebeu um aluno cego em sua turma, pois não dominava o braile, ressaltando que sua sorte foi que a mãe do aluno foi orientada pela profissional especializada onde era atendido, passando a transcrever o que ele escrevia. A criança utilizava a maquina braile com maior facilidade (a escola conseguiu comprar através de parceria) e podiam também contar com uma professora que fez um curso de utilização do “Soroban”, para fazer contas o que proporcionou, a ela, muita tranqüilidade em ter este aluno na sua turma. Para sua locomoção, os colegas eram muito solidários, já sabiam como servir de apoio. Tudo isso ajudou na sua integração dentro e fora da escola. Foi muito importante que todos os professores da escola mantiveram vínculos com os atendimentos clínico e especializado do qual o aluno era atendido. Portanto, a professora acredita que seja necessário ensinar libras e braile na formação inicial do docente, pois foi uma grande lição de vida para todos a convivência com este aluno tão especial. ”A inclusão não é difícil. Basta abrir o coração para aceitar as diferenças e assim buscarem saídas".

A respeito do papel do professor no contexto da inclusão escolar, diz que infelizmente sempre existe a resistência ao novo, sempre baseada em como ele funciona mal; o novo e o desconhecido deixam de possuir suas qualidades a partir do momento em que passam a ser utilizados e conhecidos. O fato é quem luta pela igualdade na diferença torna-se incoerente na medida em que prega educação especial, separada, excludente para pessoas com deficiência em matérias comuns. Isso sim é desigualdade na diferença! Para que a escola seja um espaço vivo de formação para todos e um ambiente verdadeiramente inclusivo é preciso que os educadores façam à diferença buscando conhecimento, desenvolvendo uma educação baseada na afetividade e na superação de limites, que as crianças aprendam a respeitar as diferenças em sala de aula, preparando-as assim para o futuro, a vida e o mercado de trabalho, pois vivendo a experiência inclusiva serão adultos bem diferentes e por certo não farão discriminações sociais.
Quando questionada a respeito do papel dos pais no auxílio aos seus filhos na escola, a professora ressalta que a instituição escolar juntamente com os pais forma uma rede de apoio para que se possa fazer o melhor por estes educandos, desenvolvendo suas potencialidades e cidadania. A escola é o espaço que pode proporcionar-lhes condições para exercer sua, identidade sociocultural e a oportunidade de ser e viver dignamente.
Os alunos da classe receberam o aluno portador de deficiência, com muita naturalidade; a cada ano que passa, tens percebido que os demais alunos apresentam um bom relacionamento com os alunos portadores de alguma deficiência, sendo até mesmo solidários, ressaltando que trabalham com o “Projeto Valores para a vida”. Portanto, uma boa organização na sala de aula exige a presença de regras claras, quer no que respeita ao comportamento, como na forma de execução das tarefas e atividades de aprendizagem. No entanto, todo esse processo de organização e funcionamento deve passar pelo respeito mútuo, pela aceitação e compreensão das necessidades do outro, por um processo aberto e dinâmico de negociação onde o aluno se sente responsável e participante.

O currículo no contexto da inclusão escolar deve recriar um novo modelo educativo com ensino de qualidade, que diga “não” á exclusão social, implica em condições de trabalho pedagógico e uma rede de saberes que se entrelaçam e caminha no sentido de banir a idéia de que a deficiência está associada à incapacidade. É uma reviravolta complexa, mas possível, basta que lutemos por ela, que nos aperfeiçoemos e estejamos abertos a colaborar na busca dos caminhos pedagógicos da inclusão. O currículo da escola é o mesmo para todos os alunos, ou seja, os alunos com deficiência aprendem o mesmo que seus colegas, porém recebem acompanhamento diário para reforçar o que foi aprendido em sala. "Acontece que alguns precisam de um tempo maior para assimilar as coisas, portanto são atendidos no reforço individual”.
A respeito dos serviços de apoio à criança portadora de deficiência, em sua escola, a professora considera que estão caminhando devagar. Além de fazer adaptações físicas, a escola ainda precisa oferecer atendimento educacional especializado paralelamente às aulas regulares, de preferência no mesmo local. No Município em que se encontra, a Secretaria da Educação oferece aulas em período contrario ao que estuda (sala de recursos) só que em outra Unidade Escolar. A escola busca parcerias com instituições e profissionais (psicólogos) do município e também fora, como é o caso do “Projeto Vida iluminada”, através da “Unimediana” (para alunos que apresentam baixa visão).

Para finalizar, ressalta que acredita na inclusão, destacando que apesar das iniciativas acanhadas da comunidade escolar e da sociedade geral, é possível adequar a escola para um novo tempo. Precisando estar imbuídos de boa vontade e compromisso, enfrentando com segurança e otimismo este desafio, enxergando a clareza e obviedade ética da proposta inclusiva, e contribuindo para o desmantelamento dessa máquina escolar enferrujada. A inclusão escolar é ainda algo a ser conquistada, infelizmente a idéia dominante por todo o país é a da separação de grupos nas chamadas “classes especiais”. Falta atitude do poder público para promover entre professores e educadores a necessidade de uma educação mais tolerante e verdadeiramente democrática, com respeito às diferenças.

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