domingo, 13 de outubro de 2013

Especialistas dizem que é impossível passar um dia sem mentir, mas há casos normais e doentios

Ela ganhou berços e roupinhas de bebê com uma mentira tão grande quanto o tamanho da sua barriga, que era falsa. A pedagoga Maria Verônica Aparecida Santos, de 25 anos, fez com que muitos acreditassem que ela esperava quadrigêmeos. Depois de assumir a mentira, ela alega problemas psicológicos. "É possível que ela tenha a fantasia de ser mãe de muitos filhos", diz o psiquiatra de Porto Alegre Abelardo Ciulla, membro da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria). "Se a mentira tem o caráter inicial de fazer mal ou levar a um ganho próprio, é uma sociopatia. Senão, é caracterizada como mitomania, a mentira patológica". Mas o que é mitomania? O UOL Comportamento conversou com especialistas para entender.

Mentiras sociais X prejudiciais
É impossível terminar o dia sem ter contado uma mentirinha. Ainda que seja dizer que a sua namorada não engordou, mesmo ela tendo ganhado uns quilinhos, ou que é incrível aquela tarefa insuportável que seu chefe te pediu. Essas são as chamadas mentiras sociais, sem maldade, que são essenciais para evitar conflitos. Já o mentiroso mau caráter está sempre à procura de algum benefício. "Esse tipo usa histórias inventadas para conseguir um ganho material ou emocional e não sente culpa se prejudicar outras pessoas", afirma a neuropsicóloga Andrea Bandeira, do Rio de Janeiro.

Mitomania
Quem sofre de mitomania não fantasia histórias visando o lucro. Segundo Andrea, a mitomania não faz parte da classificação de doenças mentais, ficando mais próxima de um transtorno que acomete pessoas com características de baixa autoestima e/ou que passaram por algum trauma. “A pessoa se sente inferiorizada e tem a necessidade de 'pintar' as coisas com uma mentira que ela gostaria que fosse verdade”, diz Abelardo Ciulla. Para o psiquiatra Elie Cheniaux Júnior, professor adjunto na UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) e membro da ABP, o mitômano é sempre o protagonista de histórias heroicas. "Alguns autores dizem que ele sabe que conta uma mentira, outros dizem que ele acaba se convencendo de que aquilo é verdade."

O coitadinho
Há também quem conte grandes mentiras trágicas, assumindo o papel do coitadinho, de doente. “Isso se deve a uma necessidade de atenção, afeto e carinho”, afirma o psiquiatra Ciulla. “Ou a pessoa sempre foi carente ou passou por uma situação traumática na vida”. Para o psiquiatra Cheniaux Júnior, as mentiras negativas não fazem parte de um quadro de mitomania. “Pode ser diagnosticado como transtorno factício, no qual o indivíduo mente relatando que tem uma doença ou sintomas falsos."

Mentirinha de criança pode ser um sinal?
"A mentirinha começa na fase dos 5 ou 6 anos, quando a criança começa a criar histórias", diz o psiquiatra Abelardo Ciulla. Segundo ele, é possível identificar sinais da mitomania em uma criança, mas é preciso muito cuidado. “Ela pode mentir mais do que as outras apenas por ser mais criativa”, afirma ele. Para a neuropsicóloga Andrea Bandeira, a mentira comum da criança é inventada a partir de uma fantasia que ela cria. “Quando há um enredo com diversas pessoas, a mentira dura muito tempo e a criança se comporta como se aquilo fosse real, é bom ficar atento", diz ela.

Como ajudar um mitômano?
Como é possível que o mitômano realmente acredite nas mentiras que conta, o ideal é que ele mesmo procure ajuda –o que nem sempre acontece. Abelardo Ciulla tem pacientes que o procuraram ao perceber que a situação da mentira se torna insustentável. "Eles vêm com uma sensação de culpa ao se dar conta de que mentem em qualquer situação e depois precisam sustentar as mentiras”, afirma. Segundo ele, mais do que resolver o problema das mentiras, os pacientes o procuram para entender quais foram os traumas pelos quais passaram a ponto de impedi-los de encarar a realidade.

Tem tratamento?
Há tratamento para a mitomania, mas não específico. Como é um sintoma de outros problemas, é importante entender quais os motivos que levam a pessoa a mentir antes de ajudá-la. “Muitas vezes a mentira está associada a um quadro psiquiátrico de depressão, por exemplo, que leva a uma baixa autoestima”, diz Abelardo Ciulla. Por isso é necessário acompanhamento psiquiátrico e, se for necessário, com medicamentos para a doença que desencadeou o quadro. "Precisamos usar a técnica de confrontação da mentira, mas também trabalhar a fragilidade emocional que levou a pessoa a ter esse comportamento", diz Andrea Bandeira. Com um bom tratamento, acabam-se as mentiras –e os problemas trazidos por ela.

Fonte: http://mulher.uol.com.br/comportamento

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